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Por O Globo | Agência O Globo – 7 horas atrás
BRASÍLIA - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes foram flagrados em um grampo da Polícia Federal conversando com um investigado por corrupção, o ex-governador do Mato Grosso, Silval Barbosa. Os telefonemas ocorreram em 20 de maio do ano passado, mesmo dia em que foi cumprido mandado de busca e apreensão na residência de Silval, ainda governador. A operação terminou com a prisão dele por posse de uma arma com registro vencido. As duas conversas ocorreram após Silval ter pago R$ 100 mil de fiança e ter deixado a sede da PF no estado. A informação sobre os grampos foi publicada pela revista Época, que disponibilizou em seu site o áudio dos grampos.
Gilmar Mendes foi quem ligou primeiro para o então governador, às 17h15. O ministro pergunta a Silval "que confusão" tinha acontecido. Ele conta que a operação na sua casa decorria de uma delação premiada e diz desconhecer a acusação de que teria se beneficiado de desvios de R$ 4 milhões para a campanha eleitoral de 2010. Conta ainda que a prisão só ocorreu devido ao fato de não ter renovado o registro da arma.
No diálogo de dois minutos, o ministro reage com as expressões "que loucura" e "que absurdo" ao ouvir o relato do então governador. Mendes diz ainda que vai procurar o também ministro do STF Dias Toffoli, que autorizou a busca e apreensão na casa de Silval e que "se for o caso" voltaria a falar com o então governador. Mendes termina o diálogo mandando um "abraço de solidariedade".
Meia hora depois Silval recebe o telefonema de Cardozo. O diálogo começa de forma semelhante, com o titular da Justiça questionando o interlocutor sobre que "confusão" teria acontecido. Silval faz o relato de forma parecida ao que já tinha feito a Mendes. Cardozo reage com as expressões "barbaridade" e "que loucura". O ministro da Justiça questiona se a PF, que lhe é subordinada, "se comportou direitinho". Silval diz que sim e critica o Ministério Público, que teria defendido a prisão pela questão do porte da arma com registro vencido. O ministro conclui a conversa dizendo para que "qualquer coisa" o então governador volte a procurá-lo.
Silval é investigado por crime contra o sistema financeiro nacional e corrupção passiva. A acusação é de que teria recebido R$ 4 milhões para caixa dois de campanha. O inquérito corre no STF porque o senador Blairo Maggi (PR-MT) também é investigado. O ministro Gilmar Mendes participou quatro meses depois do telefonema de um julgamento no STF sobre o caso. Estava em análise um pedido do MPF para que um ex-secretário do governo do Mato Grosso, apontado como operador de Blairo e Silval, voltasse à prisão. A votação estava empatada em dois a dois e Mendes deu o voto para manter o acusado em liberdade.
À revista Época, o ministro Gilmar Mendes negou que tenha conversado sobre o caso com Toffoli, conforme ele próprio diz no telefonema grampeado. Afirmou que fez o telefonema devido às relações institucionais que mantinha com o então governador. Disse ainda que as expressões "que loucura" e "que absurda" usadas por ele no diálogo com Silval eram apenas interjeições, sem juízo de valor. Afirmou ainda que o ministro não julgou o então governador e no caso do suposto operador não havia nenhuma regra de impedimento legal para que participasse da decisão. A assessoria do STF disse ao GLOBO que o ministro não se pronunciará sobre o caso.
O ministro da Justiça, por sua vez, afirmou à revista ter feito o telefonema após reação de parlamentares de que poderia ter tido abuso na operação. Destacou que o mandado era apenas de busca e apreensão e acabou ocorrendo a prisão. Afirmou que as expressões usadas por ele no diálogo, "loucura" e "barbaridade", eram apenas expressões, sem juízo de valor. O GLOBO procurou a assessoria do ministro neste sábado, mas não houve retorno.
As defesas de Silval e Blairo negam a participação deles no esquema sob investigação.